quinta-feira, 23 de abril de 2009

Dar a volta por cima

Autor: Donald Malschitzky

“Há sempre um pouco de fantasia no otimismo, mas é uma fantasia criadora; há sempre um pouco de verdade no pessimismo, mas é uma verdade estéril” Autor desconhecido
“O que faço neste fim de mundo?”, perguntava-me num curso no Confim do Judas, nas montanhas da Guatemala. Frio a ponto de queimarmos enormes troncos no centro da cabana onde se desenvolviam as palestras para nos mantermos razoavelmente aquecidos. Seco a ponto de vários de nós ficarmos afônicos por dias seguidos. A resposta sobre o que fazia estava ali, ao meu lado e na minha frente: 30 pessoas de vários países, compartilhando suas experiências, sua cultura, sua forma de pensar e agir. Viver nesse caldeirão cultural durante duas semanas, por si só, já seria suficiente, mas havia muito mais: as palestras e os palestrantes vindos do Peru, da Costa Rica, Guatemala, Cuba, Estados Unidos e outros países que não recordo, resumiram em pouco tempo o que levaria meses ou anos para ter acesso.Guillermo, um divertido e falante guatemalteco, passou dois dias fazendo tudo quanto é tipo de abordagem sobre análise transacional, abrindo portas que sequer imaginávamos existir, mas o que marcou para sempre, foi o principal mote de um americano calmo e ponderado, cujo nome não recordo: “Não existem dificuldades, existem desafios.” Pode parecer retórica, mas é mudança de paradigma: do medo para a realização, da desculpa para a ação. A palavra “resiliência” não era tão conhecida na época, mas seu conceito, sim, o analisamos à exaustão. Ceder, se necessário, mas voltar à forma original depois, usar a força da queda para subir a próxima colina, encarar a dificuldade de frente, como desafio e como combustível para alcançar melhores resultados. Levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima, como diz a música de Paulo Vanzolini, talvez seja uma das melhores receitas de felicidade. Quem não se sacode, mergulha na própria tristeza e desgraça e cava cada vez mais para o fundo até não ver mais a luz. Conta-se que em 1914 o laboratório de Thomas Edison, avaliado em mais de 2 milhões de dólares, na época, pegou fogo e seu filho saiu desesperado para encontrar o pai. Encontrou-o olhando as chamas. O velho inventor virou-se para o filho e disse: “Existe um grande valor num desastre como este: todos nossos erros são queimados. Graças a Deus, agora podemos começar tudo de novo.” Três semanas depois, terminou de inventar o toca-discos, projeto no qual havia trabalhado infrutiferamente nos últimos três anos! Cada vez que ouvimos uma música, é Edison sacudindo a poeira, dando a volta por cima e pedindo que usemos o ritmo do que ouvimos para fazê-lo também.

Publicado no Jornal Notícias do Dia e Recanto das Letras

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